OS GNEROS LITERRIOS A literatura, quanto forma, pode se manifestar em prosa ou verso.Quanto ao contedo e estrutura, podemos, inicialmente, enquadrar as obras literrias em trs gneros: o lrico, quando um eu nos passa uma emoo, um estado de esprito; o dramtico, quando atores, num espao especial, apresentam, por meio de palavras e gestos, um acontecimento; o pico, quando temos um narrador (este ltimo gnero inclui todas as manifestaes narrativas, desde o poema pico at o romance, a novela e o conto). Entretanto, por nos parecer mais didtica, adotamos uma diviso em quatro gneros literrios, desmembrando do pico o gnero narrativo, enquadrando as narrativas em prosa. Poderamos ainda reconhecer o gnero didtico, despido da fico, no se identificando com a arte literria, ou, como afirma Wolfgang Kayser, o didtico costuma ser delimitado como gnero especial que fica fora da verdadeira literatura. Gnero lrico Seu nome vem de lira, instrumento musical que
acompanhava os cantos dos gregos. Por muito tempo, at o final da Idade Mdia, as poesias eram feitas para serem cantadas. Nas obras lricas notamos o predomnio dos sentimentos, da emoo, o que as torna subjetivas. Pertencem a este gnero os poemas em geral, destacando-se: Ode e hino: os dois nomes vm da Grcia e significam canto. Ode a poesia entusistica, de exaltao. Hino a poesia destinada a glorificar a ptria ou dar louvores s divindades. Elegia: a poesia lrica em tom triste. Fala de acontecimentos tristes ou da morte de algum. O Cntico do calvrio, de Fagundes Varela, sem dvida a mais famosa elegia da literatura brasileira, inspirada na morte prematura de seu filho. Idlio e cloga: so poesias pastoris, buclicas. A cloga difere do idlio por apresentar dilogo. Gnero lrico Epitalmio: poesia feita em homenagem s npcias de algum. Stira: poesia que se prope corrigir os defeitos humanos,
mostrando o ridculo de determinada situao. Quanto ao aspecto formal, as poesias podem apresentar forma fixa ou livre. Das poesias de forma fixa, a que resistiu ao tempo, aparecendo at nossos dias, foi o soneto. O soneto uma composio potica de catorze versos distribudos em dois quartetos e dois tercetos. Apresenta sempre mtrica mais usualmente, versos decasslabos ou alexandrinos e rima. A palavra soneto significa pequeno som. Teria sido usada pela primeira vez por Jacopo de Lentini, da Escola Siciliana (sculo XIII), e mais tarde, difundida por Petrarca (sculo XIV). Apesar de ser uma forma potica clssica, o soneto encontra adeptos no Modernismo, como vemos na leitura abaixo. Que mesmo em face do maior encanto Soneto de fidelidade Dele
se encante mais meu pensamento. Quero viv-lo em cada vo momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angstia de quem vive Quem sabe a solido, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que
Gnero dramtico Drama, em grego, significa ao. Ao gnero dramtico pertencem os textos, em poesia ou prosa, feitos para serem representados. Compreende as seguintes modalidades: Tragdia: a representao de um fato trgico, apto a suscitar compaixo e terror. Comedia: a representao de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fcil, em geral criticando os costumes. Tragicomdia: a mistura do trgico com o cmico. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginrio. Farsa: pequena pea teatral, de carter ridculo e caricatural, criticando a sociedade e seus costumes; baseia-se no lema latino Ridendo castigat mores (Rindo, corrigem-se os costumes.). Gnero narrativo
Como j afirmamos, o gnero narrativo visto como uma variante moderna do gnero pico, caracterizando-se por se apresentar em prosa. Manifesta-se nas seguintes modalidades: Romance: narrao de um fato imaginrio mais verossmil, que representa quaisquer aspectos da vida familiar e social do homem. Podemos dividi-lo em: romance de cavalaria, romance de costumes, romance policial, romance psicolgico, romance histrico etc. Novela: breve, mas viva narrao de um fato humano notvel, mais verossmil que imaginrio. como um pequeno quadro da vida, com um nico conflito. Em geral, apresenta-se dividida em alguns poucos captulos. Conto: narrao densa e breve de um episdio da vida; mais condensada do que a novela e o romance. Em geral, no apresenta diviso em captulos. Fbula: narrativa inverossmil, com fundo didtico; tem como objetivo transmitir uma lio de moral. Gnero narrativo
Crnica: o seu nome j nos d uma dica: crnica deriva do radical latino crono, que significa tempo. Da o seu carter: relato de acontecimentos do tempo de hoje, de fatos do cotidiano. Desde a consolidao da imprensa, a crnica se caracterizou como uma seo de jornal ou revista em que se comentam acontecimentos do dia-a-dia. Segundo Antonio Candido, a crnica filha do jornal e da era da mquina, onde tudo acaba to depressa. Ela no foi feita originariamente para o livro, mas para essa publicao efmera que se compra num dia e no dia seguinte usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o cho da cozinha. Por essa razo, crnica foi considerada como um gnero menor. Modernamente, em funo da qualidade literria de cronistas como Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Rachel de Queiroz, Luis Fernando Verssimo, Loureno Diafria, entre outros, a crnica comparvel ao conto, sem perder, no entanto, o seu tom coloquial. Gnero pico A epopia uma poesia de flego; a narrao em versos de um fato
grandioso e maravilhoso que interessa a toda uma coletividade. uma poesia objetiva, impessoal, baseada sempre na histria de um povo. Entre as mais famosas epopias, destacamos: Ilada e Odissia (Homero, Grcia); Eneida (Virglio, Roma); Paraso perdido (Milton, Inglaterra); Orlando Furioso (Ludovico Ariosto, Itlia); Os lusadas (Cames, Portugal). Na literatura brasileira, as principais epopias foram escritas no sculo XVIII: Caramuru (Santa Rita Duro); O Uraguai (Baslio da Gama); Vila Rica (Cludio Manuel da Costa). Uma epopia apresenta-se dividida em cinco partes: Proposio ou exrdio: a apresentao do tema e do heri. Invocao: o poeta pede auxlio s musas inspiradoras. Dedicatria: o poeta dedica a obra a um protetor. Narrao: o desenvolvimento do tema e das aventuras do heri, com exposio de fatos histricos. Eplogo: o remate, o encerramento do poema. O gnero narrativo A essncia da fico , pois, a narrativa. a sua espinha dorsal,
correspondendo ao velho instinto humano de contar e ouvir estrias, uma das mais rudimentares e populares formas de entretenimento. Mas nem todas as estrias so arte. Para que tenha valor artstico, a fico exige uma tcnica de arranjo e apresentao, que comunicar narrativa beleza de forma, estrutura e unidade de efeito. A fico distingue-se da histria e da biografia, por estas serem narrativas de fatos reais. A fico produto da imaginao criadora, embora, como toda arte, suas razes mergulhem na experincia humana. Mas o que a distingue das outras formas de narrativa que ela uma transfigurao ou transmutao da realidade, feita pelo esprito do artista, este imprevisvel e inesgotvel laboratrio. A fico no pretende fornecer um simples retrato da realidade, mas antes criar uma imagem da realidade, uma reinterpretao, uma reviso. o espetculo da vida atravs do olhar interpretativo do artista, a interpretao artstica da realidade. (COUTINHO, Afrnio. Notas de teoria literria. 2. ed. Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira,1978. p. 31.